10 de jan. de 2007

2.2. Conquistando o Poder - A Chantagem

É a mobilização, nos outros, do sentimento de culpa. É uma ferramenta difícil de usar, pois requer grande habilidade em representar papéis que toquem este sentimento nas demais pessoas. Não é útil na relação entre o poderoso e a grande população, mas pode ser muito eficaz no trato com os comandados próximos, com os amigos, com os aliados, com o cônjuge, com os filhos e com os amantes.

A culpa é uma forma específica de medo. É o medo de perder o afeto. É o medo de que te tornes indiferente. Se souberes criá-la nas pessoas e conduzi-la com destreza, ela cria laços de submissão muito fortes e duradouros. Lembra que teu poder de chantagear é diretamente proporcional à dependência afetiva que conseguiste construir na relação com as pessoas a quem desejas impôr o sentimento de culpa. Relacionamentos recentes não comportam uma capacidade confiável de chantagem. Por isso, se precisares recorrer a ela numa situação desse tipo, é prudente que estejas preparado para um pequeno fracasso. Neste caso, o mais eficaz é utilizar a ameaça.

A melhor chantagem é aquela em que seu objeto se sente culpado sem notar que tu estás agindo daquela forma propositadamente. Aliás, a chantagem é ótima quando assim não o parece. Um ar de cumplicidade, confiança mútua e sinceridade deve pairar entre ti e tua vítima. Para isso, deves ser totalmente convincente em tua representação de estares te sentindo prejudicado, triste ou angustiado devido às atitudes ou ações daquela pessoa. Deves conhecê-la bem, pois precisas saber exatamente em que circunstâncias ela se sentirá culpada por causar-te algum sofrimento.

6 comentários:

Anônimo disse...

Pô! SS. BXVI!...

Isso é chantagem!... Como é que eu vou enxergar com essa letrinha miudinha? Só posso responder amanhã, pois os meus óculos ficaram na revisão...

Anônimo disse...

SS. BXVI,

Ah! Agora sim!!! Vós publicastes de maneira legível até para os que não sabem ler!... Como sois bondoso e magnânimo... Sorvo os vossos ensinamentos como os buracos negros absorvem toda a energia à sua volta!... Ó! Grande Espírito sois!...

Ao comentário, antes que vós acheis que pendo para o lado dos bajuladores irrefreáveis...

Tenho que concordar com SS., quando vós (não estranhai aqui algum erro de concordância que possa surgir de vez em quando no tratamento que eu vos dispenso, pois a segunda pessoa do plural dá um ar mais formal ao que escrevo, mesmo que eu vos trate por SS., e eu fico parecendo mais inteligente) dizeis, ou melhor, escreveis que a Chantagem é, na verdade, uma manipulação do sentimento de culpa que os Humanos se habituaram a sentir. Vós, que já haveis habitado outros mundos, sabeis que é muito difícil chantagear um marciano, ou um vulcano, comó é o caso do Sr. Spock. A chantagem não lhes pode ser aplicada porque não conhecem o sentimento da culpa, pois são muito sinceros. Já com os terráqueos, com o vosso perdão pela expressão chula, o buraco é mais embaixo! Acostumados a mentir, agem muito facilmente nas duas pontas da Chantagem - seja ativamente, como um simples Presidente de alguma república, seja passivamente, quando se deixam levar como a um deputado cassado. E, logo, mudam de lado, vítima e algoz, uma vez que o chantageador pode, se lhe descobre, a vítima, as artimanhas, passar para o lugar do chantageado.

Com essa considerações feitas, resta-me a pergunta sobre as dúvidas da lição. Ela é a seguinte: Vós já haveis considerado a potencialização da Chantagem alternadamente colocada com a Ameaça, em doses homeopáticas cada uma delas, de forma que o efeito amoral que ambas possuem seja ampliado, subjugando não apenas uma vítima, mas várias, mais exatamente 12 milhões?

A pergunta acima vem à baila por experiência própria e já vos conto. Em tempos recentes, eu precisei fazer uso alternado de chantagens e ameaças, e que surtiu um efeito poderoso, muito maior do que eu mesmo esperava. O caso é que alguns miseráveis rondavam as portas do meu suntuoso castelo em Venezuelília. Aproveitando que eles não tinham sequer um brioche para se alimentar, eu lhes disse que eu também havia passado fome como eles e que me doía muito vê-los daquela maneira. Quando rapazola, antes de eu perder os nove dedos das mãos operando uma prensa para imprimir panfletos no sindicato (essa, porém, é uma outra história), eu ficava horas e mais horas sem poder pitar um charutinho Havana, dormia em trapos egípcios, só podia beber uma garrafinha de 750 ml da pinga do João Andarilho por dia, tinha que viajar na classe sub-econômica da Pan-Air... Hoje, graças ao Programa Bolsa Goldbery, tudo isso passou... E lhes digo que o mesmo poderá lhes acontecer um dia, se ouvirem as minhas sugestões. Chamei o meu arauto-mor, o qual fatura nababescamente um alto contrato para atuar como tal, e solicitei que ele inventasse um nome para um programa que permitisse que o pobre ficasse sempre na sua miséria. Ele criou, primeiro, o Programa Isca Zero, com o qual ensinaríamos o pobre a pescar, ao invés de lhe darmos o peixe. Ele teria direito a tantas iscas quanto filhos tivesse. Não gostei do programa, pois a idéia não era essa. Ele, então, me apresentou o Programa Minha Mega-Sena Premiada Zero. Perguntei se ele queria ser demitido e ele prontamente mudou o nome para Programa Bolsa Vuitton Zero, no qual ele dava uma bolsa Vuitton fabricada no Paraguai para cada família de indigentes. Achei a idéia chique e brilhante e até me admirei de não ter tido a idéia antes dele. Aliás, a idéia, na verdade, foi minha, pois ele não a teria pensado se eu não o ameaçasse (uma parte do problema resolvido) e o chantageasse (a outra parte também resolvida). No entanto, não sei porquê, os miseráveis entenderam com isso que iriam melhorar de vida e sairiam da miséria. EU jamais lhes afirmei tal absurdo e jamais fiz referência a isso nos meus monólogos de pregação... Mas, voltemos, SS., ao assunto principal.

No começo, os miseráveis eram apenas 5 milhões, mas, logo, com as ameaças que fiz de transpor o rio em que eles buscavam água em cuias, passando-o para mais longe, eles se curvaram ante o meu poder avassalador e trouxeram-me mais 3 milhões de almas sofridas. A miséria, como a entropia no Universo, sempre aumentou muito nos meus domínios. Num piscar de olhos, logo cheguei aos 12 milhões e nem precisei da ajuda dos edis Menininho e Violetinha, dois grandes mestres da chantagem, da venda de ilusões e da pesca de almas edinheiradas. Então, eu ameacei os miseráveis novamente, dizendo-lhes que perderiam todas aquelas bolsas Vuitton Zero se não me escolhessem como o mais magnânimo chefe que eles jamais haviam lido nos livros das escolas... Ante a ameaça, eles acabaram me escolhendo novamente, pois, afinal, eles nunca tinham ido mesmo à escola e não sabiam ler. Atrás dos miseráveis, vieram, também, os banqueiros e grandes exploradores das riquezas e pobrezas do nosso rincão.

Como vóis podeis concluir, a combinação Chantagem+Ameaça é mais poderosa que a Chantegem e a Ameaça separadamente. Longe de mim imaginar que vóis não havieis pensado no assunto. Apenas vos relato a minha mais humilde experiência.

Aguardo o seu parecer...

PS: A brega da minha amiga apareceu!!! Vós acertastes na mosca!!! Ela, de fato, havia falecido... Contei para a minha amiga e ela ficou estupefeta com a sua sabedoria e com o seu profundo conhecimento... Minha amiga me confirmou que, de fato, ela não teria dado autorização para a brega morrer sem antes passar a palha no assoalho da sala... Já está tratando de despedir a dita....

Benedictus Blackwhite disse...

Meu caro,

1. Muitos astrofísicos (e eu concordo com eles) falam hoje em "bolhas negras", não em buracos negros.

2. Sim, já passei por vários mundos. Em nenhum deles encontrei forma de vida tão fascinante quanto as da Terra. Não precisas ir ao encontro do Mr. Spock para encontrares alguém que não tenha sentimento de culpa. A quase totalidade dos psicopatas não a têm. E os índios Yanomami, também. Mas estão mais longe, no interior da floresta amazônica. O caso que tu citas do presidente com o deputado cassado, segundo minha lógica de poder, está situado mais no campo da ameaça do que da chantagem. No meu raciocínio, a chantagem opera unicamente com a culpa e não com outros medos.

3. Não considero que a chantagem seja eficaz para lidar com a grande população. Ela é eficaz somente com os próximos. No caso dos 12 milhões que tu citas, o melhor mesmo é a ameaça. Por exemplo: se não votarem em mim, perderão o bolsa-família. Se o meu adversário vencer, vai privatizar a Petrobrás. Isto são ameaças, pois provocam na grande população um sentimento de medo.

A não ser que tu poses de vítima, de coitado, a combinação entre chantagem e ameaça no trato com a grande população é perigosa contra ti.

4. A venda de ilusões se enquadra mais na SEDUÇÃO, que tratarei em breve.

5. Há controvérsia sobre a entropia do Universo.

Anônimo disse...

SS. BXVI,

Vosso discípulo agradece a deferência e as explanações, as quais foram devidamente anotadas para posterior aplicação...

Agora, vós falastes de algo a que vós denominais de "bolsa família". Do que se trata? Interessei-me sobremaneira pelo nome... É, por acaso, algum tipo de auxílio para o controle familiar dado pelos fundos (todos os trocadilhos possíveis) do Vaticano? Ou, vai ver, é coisa do maluco do Huguito Chapolim, meu vizinho do Norte!!.. Agradecer-vos-ía, assim mesoclisticamente, uma explanação detalhada sobre o termo... Quem sabe não começo a agregá-las a um, ou mais de meus planos para a manutenção da pobreza entre os meus súditos...

Foram bem lembradas as populações Yanomami, bem como o pessoal de apoio (os tais psicopatas) do meu suntuoso palácio... Não fosse a vossa superior sabedoria e o vosso total desprendimento das coisas terrenas e eu as teria deixado ali mesmo, no limbo do esquecimento, por mais algum longo tempo...

Quanto às bolhas negras que vós tão entusiasticamente apoia em vossa clara missiva, acredito que tenha havido um equívoco por parte dos astrofísicos.... O que eles viram foi apenas uma imagem, trazida pelo túnel do tempo, dos boinas negras... Como vós vedes, uma simples ilusão de óptica a que se poderia chamar de black optical illusion effect... Já, no nosso Mistério da Aeronáutica, onde segredos são guardados a sete, quiçá oito chaves, o pessoal andou descobrindo foi o buraco negro volante (le trou noir volant, nas palavras do grande Waldick Pirrés, cientista austro-franco-birmanês que nos dá consultoria).

Por fim, queria rogar por vossas desculpas em razão de vários erros de grafia que o meu teclado impõe aos meus textos e que, mesmo após cuidadosa revisão, passam por meus humildes e cansados olhos sem que eu os perceba. Eles não são merecedores de vós e de vossos santos olhos...

Benedictus Blackwhite disse...

Meu caro, começo pelo fim.

Apesar de minha vasta experiência, desconhecia a existência de teclados tão ativos, a ponto de serem capazes de impôr aquilo que chamas de "erros de grafia". Gostaria de saber mais sobre esse eloqüente acessório. Há um sábio homem com quem podes contar aí quando teu teclado especial se rebelar. O nome dele é Luigi Dolce Vita.

O black optical illusion effect muitas vezes cria confusão por se parecer com as bolhas negras. Há uma diferença sutil entre ambos: o black, como disseste, é conduzido pelo túnel do tempo, enquanto as bolhas são o próprio túnel do tempo. A consultoria de Waldick Pirrés neste campo não é confiável. Sugiro que o demita e contrate o Jacy Beaureaux.

Ao que dizes, tens auxiliares psicopatas. Devo admoestá-lo sobre isso. O exercício do poder comporta apenas um psicopata por vez. Teres auxiliares psicopatas coloca em risco a efetividade de tua vontade de mando.

Bolsa-família. Não sei o que é isso. Meu poder ainda não foi mobilizado para querer saber algo sobre essa bolsa. Usei esta frase porque li num periódico da Baviera. Neste mesmo diário, li também que teve um outro sujeito que disse que, caso o adversário vencesse a eleição, teu país iria afundar na corrupção. Isto também é ameaça.

Vaticano. Que Vaticano? Compreendo que pensas que eu tenha algo a ver com o Vaticano. Mas não tenho.

Hugo Chavez é muito afobado no exercício do poder. Não está bem aconselhado. Coragem sem prudência é suicídio no poder.

Anônimo disse...

Voces deviam publicar essa troca de ideias, eh muito criativa. Nunca vi tanta criatividade assim.

Eu nao experimento sentimento de culpa de forma alguma. E nao sou psicopata, como definiram. E tambem nao sou Mr Spock, muito menos india...Eu sou eh bem resolvida comigo mesma, hahahaha. Mas nao contem a ninguem que vim de um planeta rebaixado recentemente...