29 de dez. de 2006

Lançamento de Ano Novo



Muitos amigos insistiram que eu publicasse algo sobre o exercício do poder. Tal insistência não veio do nada: eles sabem de minha vasta experiência como poderoso. Sendo também homens poderosos, estavam desejosos de aprender comigo. Depois de muito refletir, resolvi atender seus apelos e eis que lanço o Manual do Poder. Ele será publicado aqui em posts diários a partir do dia 05 de Janeiro de 2007.
Aqui vai um trecho:
O poder detesta do vácuo. Por isso, estará sempre ocupado por alguém. Não há como dois poderosos ocuparem o mesmo lugar ao mesmo tempo. Daí que é imprescindível ter em conta que o poder nunca é dado a alguém, mas conquistado. Poder recebido não significa nada além de enfeite. Poder conquistado é efetividade para fazer valer a vontade sobre os outros.

28 de dez. de 2006

As Armadilhas do Poder - II


Sei de quase todos os segredos dos chefes de Estado do G-8. Por isso, posso manipulá-los. Minha exigência mais recente é que o Vaticano faça parte das reuniões de Davos como membro efetivo. Vladimir Putin e George Bush são contra, mas não ousam obstar meu pleito. Tenho segredos deles que, revelados, abalariam o Ocidente.

As Armadilhas do Poder - I


Já estive muitas vezes no Brasil. As duas ocasiões mais importantes foram, primeiro, no século XVII, quando, na pele de Domingos Jorge Velho, desmantelei o quilombo dos Palmares, e, recentemente, travestido de Bento XVI em campanha por Santa Klaus, visitei o presidente da república e o senado federal.

Falo agora da visita ao presidente. Notei-o feliz e sorridente. Ao mesmo tempo amarrado. O poder é assim: faz o sujeito sorrir à toa, mesmo que esteja preso a uma canga. Ser presidente do Brasil é padecer no paraíso, concluí.

25 de dez. de 2006

Um encontro edificante


Depois de descansar no mar, dei um pulo até o Marrocos para participar da DCLXXII Conferência Mundial do Diálogo Entre Fundamentalistas Milionários da Indústria do Petróleo. Eu estou sentado à direita, no canto inferior da foto, fantasiado de camponês. Ao fundo, de cabelos longos e barba, com a mão esquerda estendida, está um velho amigo que às vezes atende pelo nome de Jesus.

As conferências mais importantes foram proferidas pelo milionário George W. Bush, que nas horas vagas é presidente dos Estados Unidos da América, e pelo não menos rico Osama Bin Laden, cujo hobby atual é brigar com Bush. Ambos defenderam a idéia de que Deus está com cada um deles e abençoa seus propósitos humanitários. Um encontro edificante, do qual saí com renovada confiança nos homens poderosos, os petro-homens.

Pausa para um descanso no mar

Eu no mar
Foi muita correria neste Natal. Além de ajudar Santa Klaus a preparar tudo, tive que correr de volta a Roma para rezar a Missa do Galo. Por isso, nada mais justo que um descanso no mar.

Fico pensando: de onde tiraram tanto sal para salgar esse mundão de água? E como aquela areia toda chegou ali?

Se alguém souber, que me diga.

Viver


Sempre tive uma sedução pelo lobisomem. Certa vez, encontramo-nos numa taberna no caminho de Santiago de Compostela. Confessei minha admiração e ele, indiferente, apenas retrucou:

- Tu nem imaginas o que é ficar dependente da lua cheia.

Eu não imaginava mesmo. Só vim compreender isso recentemente, quando fui mulher por oito meses.

23 de dez. de 2006

Feliz Natal!

Mensagem de Natal

Estou de volta!


Após um trabalho árduo, organizando tudo para que Santa Klaus distribuísse todos os presentes mundo afora, estou de volta. Como não pude contar com o transporte das renas, tive que voltar de avião. Meus colegas de trabalho, os controladores de vôo brasileiros, não ajudaram muito. Como se pode ver na foto, lá estou eu na fila, aguardando, como muitos, a hora de embarcar.

8 de dez. de 2006

Lá vou eu



O número de voluntários cresce assustadoramente! Por isso, preciso partir imediatamente para a terra de Papai Noel, pois é assaz necessária a presença do coordenador dos trabalhos. Assim sendo, vou agora para lá e só estarei de volta no dia 21 de Dezembro. O trenó já me espera à porta. Até breve, visitantes deste blog! Quando voltar, trarei presentes para todos.

Na lua



Quem pensa que era Buzz Aldrin está enganado. Era eu, claro! Basta olhar com atenção. A missão Apolo foi um sucesso graças à minha atuação nos bastidores. É claro que a NASA não reconhece isso. Mas o que me importa? Todos eles passarão e eu, passarinho. (Fazer plágio de Mário Quintana não vale).

7 de dez. de 2006

Ainda em campanha


Continuo em campanha por Santa Klaus. Aproveitando a passagem por Brasília, visitei o Senado Federal. Recebi apoio irrestrito de todos os ilustres homens da República. Nenhum deles, porém, se ofereceu para ser voluntário. O senador ACM, no entanto, fez um discurso veemente louvando a iniciativa. Daqui parto para a Bolívia. Vou tentar algum apoio da Petrobrás lá, já que aqui não fui recebido.

Já estou em campanha


Já iniciei a campanha para ajuntar voluntários para ajudar meu amigo Santa Klaus neste Natal. Usando meu disfarce de Bento XVI, visitei Lula e Chavez e os convidei a serem voluntários. Lula ficou deveras triste ao saber do acidente com Papai Noel, mas disse estar muito atarefado com a mídia e lamentou não poder ajudar. Chavez pediu-me um milagre: que curasse Castro. Neguei, claro, repetindo o que já venho dizendo há séculos: não realizo milagres desde o malogro que foi tentar ressuscitar Nero. De qualquer maneira, obtive dos ilustres presidentes o compromisso de veicular minha campanha nas mídias de seus respectivos países.

Pronto pra trabalhar

Já estou pronto para trabalhar! Meu amigo Santa Klaus está se recuperando bem do acidente sofrido. Neste momento, porém, não tem condições de preparar a enormidade de presentes para distribuir no Natal. Por isso, estou reunindo milhares de voluntários do mundo inteiro para ajudar nesta empreitada. Algumas centenas de pessoas estão vindo da Somália, do Haiti e da Etiópia.

O trabalho é intenso, mas grandioso, pois estamos preparando a alegria de bilhões de crianças. Se você quiser aderir a esta campanha, basta clicar aqui.

6 de dez. de 2006

Adeus férias de fim de ano...

Planejei com tanto cuidado e antecedência minhas férias de fim-de-ano e vejam o que me acontece! Meu amigo Santa Klaus está totalmente impossibilitado de fazer as entregas deste Natal. Quem vai substituí-lo? Um doce para quem adivinhar! Eu, Benedito Blackwhite, claro!

Esses controladores de vôo ainda me pagam!...

5 de dez. de 2006

Visita a Freud


Estive recentemente, em 1933, com meu amigo Doutor Freud. Recebeu-me em seu consultório. Tinha acabado de colocar um paciente debaixo do tapete. E comentou comigo, em tom chistoso:

- Você sabe, Benedito, debaixo do tapete de um psicanalista, tem sempre um doido varrido.

4 de dez. de 2006

Dicas a uma certa mulher

Uma mulher escreveu-me implorando que a ajudasse a ter de volta seu marido que a vem deixando em segundo plano porque se tornara um blogger. Não costumo atender a pedidos dessa natureza. Há séculos não realizo um milagre sequer e, em nenhuma circunstância, forço as circunstâncias para satisfazer qualquer desejo de qualquer pessoa. Então, cara mulher, não farei qualquer esforço sobrenatural para lhe atender, mas passo a listar uma série de medidas ao seu alcance que pode tomar sem grande esforço.

1. Quebre o computador dele.
2. Contrate um cracker para invadir a máquina dele e travá-la.
3. Apague todos os arquivos que ele usa para produzir o blog. Sem ele saber, claro.
4. Arranje o falso amante e faça-o acreditar que é de verdade.
5. Faça comentários ofensivos ou que o desmascarem no blog dele.
6. Crie um blog para você onde apareçam fotos suas em poses sensuais.
7. Cancele a conta com seu provedor de Internet.
8. Prepare um jantar especial só para vocês dois.
9. Quando ele estiver trabalhando no blog, converse com ele sobre futebol.
10. Troque seu marido por outro que seja analfabeto digital.

Meu primeiro dia





Desde o início da crise no controle do tráfego aéreo, venho tentando ser um controlador voluntário, mas a burocracia da Aeronáutica e da ANAC ofereceu muitos entraves. Depois de vencê-los, eis que iniciei o trabalho ontem, domingo, 3 de dezembro, no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Meu primeiro dia foi difícil, pois o treinamento por que passei foi muito rápido e superficial. Como podem ver acima, o avião que estava sob minhas instruções passou bem perto da torre de controle. Mas confiem em mim, pois, com o passar do tempo, vou me aprimorando, mesmo que venha a derrubar uma ou duas aeronaves.

2 de dez. de 2006

Domingos Jorge Velho


Além de ter comandado o massacre do Quilombo dos Palmares, desempenhei missões importantes para a Coroa Portuguesa. A mais importante delas foi em Minas Gerais, no Rio das Velhas, próximo à Vila Rica de Ouro Preto. Chegou por lá um certo Midas, vindo, segundo diziam, de um lugar chamado Grécia. Era um sujeito estranho, calado, macambúzio, sempre usando luvas. Repentinamente apareceu com uma grande quantidade de ouro, com peças em diversos formatos, inclusive de bois em tamanho real e dos quais muitos fazendeiros afirmavam terem sido seus animais transformados em estátuas douradas. O tal Midas, parecendo doido e fora de si, jogava pelas ruas grandes pedras de ouro, ao que o povo de Vila Rica se aglomerava atrás dele disputando os presentes a socos, pontapés e tiros. E Midas só andando e gritando "calma, tem ouro para todos!".

Preocupado com tanto ouro e sem saber como cobrar os impostos sobre tamanha quantidade, El Rey convocou-me com a missão de eliminar o tal Midas e expropriar todos os seus bens. Com o homem morto, não caberia qualquer indenização. Eis que, chegando a Vila Rica com um pelotão bem treinado, pedimos apoio ao chefe policial local, que designou um certo alferes Joaquim José da Silva Xavier para nos levar até o bandoleiro. O alferes, dado também à arte de cuidar e extrair dentes, conhecia a residência de Midas, pois que já lhe havia prestado este tipo de serviço. Chegados à sua casa, ordenei aos homens que fosse cercada e gritei ao tal Midas que saísse. Feito. Para surpresa de todos, vestia um sobretudo de ouro, como também o chapéu. Correu em direção ao Rio das Velhas e, sob intenso tiroteio, saiu ileso, protegido pelas roupas de ouro. Perseguimo-lo até o rio. Encurralado, não viu saída a não ser entrar na água. Porém o peso das roupas puxou-o para o fundo. Debatendo-se ferozmente contra a morte, pôs as mãos na cabeça em desespero, transformando-se totalmente em ouro. Afundou devagarinho. O povo assistiu a tudo atônito. Até hoje, no fundo do Rio das Velhas, próximo a Ouro Preto, pode-se encontrar a auto-estátua de Midas. Se você a vir, não toque nela!

Não seja rígido


O povo Adinkra, no Gana, me ensinou a ser flexível. E com quem os Adinkra aprenderam isso? Com os crocodilos. Esses animais aquáticos e terrestres lhes ensinaram que a rigidez pode ser o começo da morte. A flexibilidade produz adaptação, que, para eles e para mim, é a atitude mais sábia diante da vida. Para mim, principalmente, que estou sempre migrando de forma em forma e de matéria em matéria. Às vezes, tenho também que passar de partícula para onda e vice-versa. Se não fosse flexível, não sei como agüentaria esse tranco. Agradeço aos Adinkra, que agradecem aos crocodilos.

Promessa


Conheci Clemência (Quelemença, segundo a própria) em Belo Horizonte. Era arrumadeira. Diarista de quase todos os apartamentos do sétimo andar. Veio de Almenara, no Vale do Jequitinhonha, para tentar a vida na capital, primeiro, quando era jovem, como prostituta, e, depois, quando não mais servia para vender sexo, como empregada doméstica.

Os meninos do apartamento da frente sempre caçoavam dela por causa da falta de dentes. "Nojenta da boca suja" era como se referiam a ela. E a humilhavam perto de outras pessoas, em casa, no hall, onde fosse. Clemência não gostava daquilo, mas não reagia. Perto do que já tinha passado na vida, aquilo era uma coceirinha de nada.

Certa feita, fui reclamar à mãe dos meninos sobre aquele comportamento pouco respeitoso e ela, depois de desculpar-se atrás da sobrecarga de trabalho, fez-me saber que daria um corretivo nos mal-educados. E assim fez. No dia, convidou-me para ser testemunha. Lá estavam, na sala, Clemência e os meninos sentados frente a frente. A mãe ordenou-lhes que pedissem desculpas e prometessem não mais atormentar a arrumadeira.

- Desculpe, Dona Clemência! A gente promete que não vai mais mexer com a senhora.

- Tá desculpado, meninos. E eu prometo que não vou mais escovar a gengiva com as escovas de vocês.

Ser príncipe é um tédio



Na última vez em que fui beijado, transformei-me num príncipe e fui forçado a contrair núpcias com uma moça fútil e insegura. Alguns contistas inventaram a mentira de que fôramos felizes para sempre. Qual nada! Sofri pra caramba naquela corte cheia de gente chata. Amigo sincero mesmo eu só tinha entre os empregados, pois os freqüentadores do castelo eram fingidos, dissimulados e interesseiros. Tratei logo de morrer. Tornei-me, então, um vendedor de pipocas na porta de uma escola do bairro dos Jardins, em São Paulo. Se me encontrar, pergunte sobre meu passado nababesco e tedioso, que narrarei coisas interessantes sobre a nobreza de um país distante.

1 de dez. de 2006

Aprender com o passado


Eu amo o povo Adinkra. Sempre que posso, vou a Gana passar uns dias em uma aldeia Adinkra. Se não tivesse tantos compromissos como papa, como são benedito e como domingos jorge velho, moraria lá pelo resto da eternidade. Sim, eu sou eterno. Os Adinkra também.

Chance perdida


Convivi um tempo com Jesus, em Cafarnaum. Na verdade, fui seu aluno durante uns oito meses. Eu queria aprender a sua técnica de fazer reviver pessoas mortas, mas ele não quis ensinar. Nas aulas, passava o básico: como enfrentar os fariseus, como passar um camelo no vão de uma agulha, como curar cegos e paralíticos e como cessar hemorragias em mulheres. Cheguei a alertá-lo sobre o perigo de ser mal interpretado, posto que muitos poderiam querer fazer dele o messias libertador de Israel, mas não me ouviu.

A foto ao lado foi feita por um artista desconhecido que não sei o nome. Leonardo da Vinci já estava lá, mas não quis fazer nenhuma foto a não aquela para a qual fora contratado, a da ceia com os apóstolos. Se eu tivesse permanecido na escola de Jesus, teria aparecido nessa foto, mas preferi aprender a voar com os monges do Tibete. Perdi a chance de aprender a transformar água em vinho e vinho em sangue.

O bom entendedor

Santa Klaus


Quando é verão no hemisfério norte, costumo passar uns dias com meu amigo Papai Noel. As renas descansam suavemente na relva. Klaus não gosta de falar sobre trabalho enquanto estamos juntos. Temo por sua saúde e indago sobre os cuidados que toma, mas ele desconversa e abre mais uma garrafa de vinho. Beaujolais. Não sei a safra. A pior parte da visita é quando passeamos pelas ruas de Estocolmo: Klaus está sempre acompanhado de dois seguranças. Tendo sido considerado um dos homens mais ricos do mundo, tem medo de ser seqüestrado por gente da Al Qaeda.