30 de jan. de 2007

8. O Poder e a Religião

Tu sabes: as religiões consideram-se mediadoras entre o seu deus e os humanos. Em sua concepção, esse deus é todo-poderoso, todo-ciente e todo-presente. Portanto, o fato de uma religião se creditar como mediadora de um deus tão poderoso confere a ela um poder significativo, que não deves desprezar. Outro ponto importante: tendo por princípio a perdição humana, as religiões se oferecem como portadoras da salvação.

Posso te assegurar, e tu sabes, que a maioria das pessoas crê firmemente no que pregam as religiões e, em grande parte dos casos, segue as orientações morais e políticas de seus prelados. Por isso, ouve meu conselho: jamais desprezes as religiões, mas trata-as com equanimidade, posto que, entre si, elas padecem de grandes disputas. Mas eis o principal: não deixes que nenhum prelado seja teu conselheiro e nem que um sentimento religioso oriente tuas ações no exercício do poder. Lembra que o poder se orienta por si e não deve haver um outro poder do tipo sagrado colocado entre ti e tua vontade de mando.

A ti pessoalmente recomendo não prestares culto a deus algum. O melhor a um poderoso é não ter fé a não ser em si mesmo. No entanto, se tens o hábito de uma religião, tradição familiar ou herança infantil, e não a queres desprezar, meu conselho é que a cultives discretamente, jamais permitindo a mistura de sua moral e sua doutrina com os assuntos do poder que exerces.

26 de jan. de 2007

7. O Poder e os Familiares

Mais espinhosos que os adversários e mais mobilizadores que os inimigos são os familiares de quem exerce a vontade de mando. Envolvidos pela crença de que seu parente poderoso usará sua influência, tais familiares tentam pressioná-lo a que lhes consiga boas colocações ou outro tipo de vantagem.

Não cedas jamais a esse tipo de mentalidade. O ideal a fazeres é, quando da assunção ao poder, avisares aos familiares que não abrirás concessão a quem quer que seja. Aconselho-te a te precaveres quanto às chantagens que virão, pois teus parentes não hesitarão em usar pessoas de teu afeto para te influenciarem a seu favor. Nas reuniões familiares e nas festas íntimas, não te deixes envolver por reclamações financeiras, por autocomiseração e nem por qualquer assunto que enrede para algum pedido de favor que lhes nutra alguma expectativa de atendimento de tua parte.

Finalizando: terás mais tranqüilidade se teus parentes brigarem contigo por lhes negares favores e vantagens do que por ter-lhes concedido o que pediam. De qualquer maneira, encherão tuas medidas. Portanto, é melhor que o façam longe do poder.

Assumi o Google


Estive hoje com o staff do Google para nos conhecermos de perto e para que eu tranqüilizasse a todos quanto à sua permanência em seus postos. Nada será mudado na política da empresa e todos os projetos serão mantidos. Digo isto não apenas para acalmar os investidores da Nasdaq, mas principalmente para serenar o clima de apreensão entre os membros do staff. Apenas o YouTube sofrerá alterações, visando impedir que seja desconectado pela força de sentenças de juízes aloprados.
As patinetes e os skates também serão mantidos.

25 de jan. de 2007

Migração Compulsória

Devo informar aos milhões de leitores que, por
força de ter adquirido 90% das ações do Google,
fui obrigado a migrar para a versão dois do
Blogger. Se, em vossos comentários, vossa
identidade não for mostrada, terá sido porque
ainda não migrastes para a nova versão. Meu
conselho é que o façais o quanto antes, pois,
como novo proprietário do Google, estou disposto
a deletar a primeira versão do Blogger em breve.


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Fidel Castro


O funeral de Castro não demorará em chegar. Publicamente, estive com ele apenas uma vez (foto). Secretamente, mediei alguns encontros entre ele e Bush Pai, na tentativa resolver impasses de ordem econômica. Bush queria pescar num rio de Sierra Maestra e Castro desejava passear numa montanha-russa em Orlando. Tudo secretamente, claro. E foi feito. Ninguém soube, nem mesmo os serviços secretos dos respectivos governos.
Sou perito nisso também.

24 de jan. de 2007

Dalai Lama


O governo do Quênia teme sofrer retaliações da China. O governo da China defende e pratica a anexação do Tibete. O Dalai Lama é contra a anexação do Tibete pela China. Embora não deseje mais que o governo de Pequim desocupe seu país, exige o respeito à milenar cultura tibetana. O Fórum Social Mundial se realiza na cidade de Nairóbi, capital do Quênia. O Dalai Lama foi convidado a proferir uma palestra lá, mas o governo do Quênia não permitiu sua entrada no país. Só de raiva, eu estava disposto a derrubar a muralha da China, mas o Dalai Lama pediu-me que não o fizesse. Atendi. Contrariado. Mas atendi. Em respeito à sua cara de bonzinho. Quer ver uma entrevista dele? Clique aqui.

23 de jan. de 2007

Pausa Prática


Como sou coerente, não apenas escrevo teoria sobre o poder, mas também pratico o que escrevo. Aliás, o que escrevo provém de milênios de experiência própria.
Estive recentemente em pescaria muito proveitosa, a convite de Gustavo Cisneros e Bush Pai. Pediram-me conselhos sobre indústria do petróleo e redes comunicação. A Bush Pai aconselhei a retirada das tropas do Iraque, pois o preço do barril de petróleo tinha chegado ao máximo possível. Cisneros ouviu de mim a aprovação do processo de fusão entre a sua Direct TV e a SKY de Murdoch. Fui reticente, porém, em relação à aquisição de ações de uma grande empresa editora no Brasil.
Ambos se mostraram apreensivos em relação à Venezuela. Meu conselho foi que não tentassem outro golpe de mídia, mas que abrissem canais de negociação com Chávez. E sugeri a Cisneros que procurasse no Brasil uma grande rede de televisão para se associar. A holding que abriga essa grande rede tem uma dívida colossal e poderá se interessar por um sócio rico como ele.
Ficaram mais tranqüilos e me agradeceram com dois cheques rechonchudos.

6. O Poder e a Amizade

Há um ditado antigo que diz: um amigo bom e fiel vale mais que um tesouro. Concordo. Mas vejamos. Se, quando assumes o poder, teus amigos de toda a vida vêm pedir cargos, deves romper com eles aquela amizade antiga, ainda que isto te seja doloroso. Porque o amigo bom e fiel jamais te pedirá algo que dependa de usares do poder que tens para atendê-lo. Queres chamar um amigo que consideras sincero para ocupar um lugar de tua confiança? Meu conselho é que relutes o quanto puderes em fazê-lo, pois não deves colocar teu amigo numa situação em que tenha a opção de negar teu pedido. Neste caso, tu não estás sendo o amigo bom e fiel que ele esperava que fosses.

Há o risco de perder muitos amigos? Sim, há. Como também o haverá se tentares atendê-los em seus pedidos. Manter os amigos longe do poder é o melhor que farás. Trata-os como sempre os trataste. Contudo, atenta para o seguinte: se um amigo te apoiou em tua escalada para o poder e esteve sempre ao teu lado, oferece-lhe teu melhor cargo, mas trata-o como um subordinado, não como um amigo. Alcança que, ao fazer isto, terás deixado o amigo para teres um subordinado em quem podes confiar. Por isso, jamais deves permitir que a amizade subjacente interfira na relação de poder. No entanto, se titubeares e fores pego cedendo a pequenas chantagens, demite-o imediatamente.

Deves estar indagando-te: se não devo colocar os amigos à minha volta, como vou preencher os cargos de confiança sob meu poder direto? Aqui vai meu conselho: coloca funcionários de carreira, especialmente os mais antigos. Atenta para os que tenham liderança saudável sobre os demais, que não sejam narcisistas e que demonstrem ter múltiplas habilidades. Deves escolher proporções iguais de homens e mulheres.

Concluindo: poder é poder; amigos, à parte.

22 de jan. de 2007

5. O Poder e o Amor

Só uma coisa é mais forte que o poder: o amor. Se amas alguém e este amor vier a requerer que renuncies ao exercício da vontade de mando, faze-o. Do contrário, ficarás dividido entre o amor e o poder. Tua visão do poder ficará obnubilada pelo amor e teu amor será incompleto devido às preocupações com o poder. Lembra-te: poderás sobrepujar todos os adversários, mas não subjugarás o amor, pois este é maior e mais forte que tudo.

Se, no entanto, o amor não te obrigar à renúncia do poder, deves cultivá-lo como a um bonsai, de modo a não fazer sombra na vontade de mando. A pessoa a quem amas não deverá participar em nada das instâncias do teu poder e terá sua fonte de renda independente da tua ou de tua influência. Tu não deves dar a ela privilégio algum de teu poder, pois isto causará nela divisões e poderá alimentar dúvidas sobre se a amas verdadeiramente ou queres agradá-la em troca de afeto. Por isso, cuida que a pessoa amada jamais intervenha em tuas decisões de poder. Isto porque, quando estiveres com ela em momentos de entrega amorosa, possas estar por inteiro e ela também.

Por fim, uma palavra aos amigos poderosos que amam pessoas do mesmo sexo e que me pediram um conselho. Ei-lo: se és gay, homem ou mulher, não importa, não deves temer a exposição pública desta condição, a não ser que sejas tu mesmo o primeiro a ter restrições a esse tipo de amor. Se não tens, deves deixar a grande população saber disso. Tua vontade de mando e seu exercício não sofrerão abalos significativos, mesmo sabendo que um número considerável de pessoas avalie que este tipo de amor seja inatural. Elas saberão distinguir entre tua forma de amar e tua forma de exercer o poder.

Em tudo, guarda uma coisa: não deves passar a vida sem que ames alguém.

19 de jan. de 2007

4. O Poder e o Dinheiro

Se pensas em enriquecer com o poder, erras o alvo. Quando te digo que o poder é para poucos, é porque é mesmo. Muitos, a maioria, faz uso do poder para conseguir muito dinheiro. É um erro. Quando te ocupas em ganhar muito dinheiro pelo uso do poder, esquecerás o exercício da vontade de mando e a substituirás pela busca da riqueza. É a tua ruína.

O poder não aceita outro foco senão ele mesmo. Portanto, dedica o melhor de ti a aperfeiçoar-te na arte de prover finalidade às ações, de modo que só de ti possa emanar aos demais tal finalidade. Eis aí a realização plena do poder. Se tens muito dinheiro, és levado a pensar que ele te dará algum poder, já que cultivaste, sem perceber, a ilusão de que poderás comprar tudo. Neste momento, terás perdido a vontade de mando, posto que te ligaste a alguém financeiramente, tornando-te dependente dele.

Queres meu conselho? Despreza a riqueza e terás a mente aberta à vontade de mando.

Com o Governador Serra


Depois de segurar os dois caminhões, fui ter com o governador Serra. Disse a ele que Serra não combina com cratera, pois todo grande buraco é uma serra às avessas. Ele riu tímido, pois, sendo homem de juízo, sabia que a situação era de sisudez. Mesmo assim, brincou comigo, dizendo que Mário Covas tem mais a ver com cratera. Ri, concordando. Depois, ofereci minha vasta experiência na gestão de crises e ele agradeceu, como se dissesse "não preciso". Entendi seu recado e segui o conselho de Severino Cavalcante: recolhi-me à minha insignificância.

Solidariedade



Interrompo a escrita do Manual do Poder para ir à cratera do metrô de São Paulo, no Brasil. Infelizmente, não cheguei a tempo de segurar um micro-ônibus e impedi-lo de ser soterrado. Mas pude segurar dois caminhões, salvando seus ocupantes.

16 de jan. de 2007

3. A Manutenção do Poder

Manual do Poder

Se encontras resistência, insolência, má vontade, excesso de desculpas, interposição de dificuldades e outras atitudes assemelhadas em teus subordinados, é porque não conquistaste ainda o poder. É sinal de que tens concorrentes em teu próprio meio. Neste caso, há pelo menos cinco soluções não hierarquizadas e não mutuamente excludentes.

Primeira, revê tua atitude diante de teus comandados. Se encontrares em ti algum traço de fraqueza ou se descobrires que estás tratando diferente algum subordinado, de modo a causar nos demais a impressão de favorecimento, exclui imediatamente aquele.

Segunda, se o problema não está em ti, demite os resistentes, de modo a confirmar aos demais que o poder é teu.

Terceira, fica com os descontentes e demite os dóceis, pois aqueles demonstraram ter um senso crítico mais apurado e poderão ser úteis na realização de tarefas complexas e sofisticadas, além de vislumbrarem a possibilidade de virem, um dia, a te derrubar do poder. Estes são os melhores, pois te fazem permanecer em alerta e te obrigam a aperfeiçoar teus métodos.

Quarta, manda todos embora e compõe novo grupo de subordinados, com o cuidado de não repetires os mesmos erros.

Quinta, demite-te do poder antes que outros o façam.

11 de jan. de 2007

2.3. Conquistando o Poder - A Sedução

Eis aí o que realmente assegura um poder eficaz e sem maiores turbulências. Seduzir implica em criar nos outros a expectativa forte de que irás realizar interesses, necessidades, projetos e sonhos que eles acalentam e que os mobilizam a apoiar-te como única possibilidade de efetivação desses desejos. Quando conseguires criar tal expectativa – e isto demanda que já tenhas algum poder –, terás alcançado uma cumplicidade tal que as pessoas terão a sensação de que estão aderindo a ti espontaneamente, e não tomadas pelo interesse próprio. Caso não tenhas ainda algum poder ou aquele que tens não é suficiente para atender aqueles desejos, terás que mentir, fingindo estares em condições de cumprir a expectativa criada. Sendo assim, deves ter em mente duas coisas: obter poder suficiente para realizar a maioria daqueles desejos ou, caso contrário, inventar desculpas bem arranjadas e convincentes. Neste último caso, podes produzir um fato de grande repercussão que roube a atenção das pessoas enquanto tu ganhas tempo.

Qualquer um pode ser objeto de tua sedução. No entanto, um poderoso tem um prazer especial quando seduz um adversário, quando consegue neutralizar as forças de oposição pela cooptação sedutora de parte delas. Meu conselho é que guardes este artifício para momentos cruciais ou de crise no exercício do poder. A sedução de adversários não deve ser banalizada. Quando a fores realizar, opta primeiro por oferecer prestígio e poder em troca de apoio, mas não dinheiro. Evita o quanto puderes seduzir o adversário com dinheiro, pois correrás o risco de ele querer sempre mais. Além disso, se comprares apoio do adversário com dinheiro, ficarás preso a ele e, num momento de conflito, usará isto contra ti.

Tua principal arma de sedução seja a simpatia. E lembra: como acontece no enamoramento, quase nunca a sedução se concretiza com apenas um encontro. Tua paciência é fundamental para obteres êxito e não deves deixar que a ansiedade te governe. Tem sempre em mente que o fruto de uma sedução bem feita é a cumplicidade irrestrita à tua vontade de mando.

10 de jan. de 2007

2.2. Conquistando o Poder - A Chantagem

É a mobilização, nos outros, do sentimento de culpa. É uma ferramenta difícil de usar, pois requer grande habilidade em representar papéis que toquem este sentimento nas demais pessoas. Não é útil na relação entre o poderoso e a grande população, mas pode ser muito eficaz no trato com os comandados próximos, com os amigos, com os aliados, com o cônjuge, com os filhos e com os amantes.

A culpa é uma forma específica de medo. É o medo de perder o afeto. É o medo de que te tornes indiferente. Se souberes criá-la nas pessoas e conduzi-la com destreza, ela cria laços de submissão muito fortes e duradouros. Lembra que teu poder de chantagear é diretamente proporcional à dependência afetiva que conseguiste construir na relação com as pessoas a quem desejas impôr o sentimento de culpa. Relacionamentos recentes não comportam uma capacidade confiável de chantagem. Por isso, se precisares recorrer a ela numa situação desse tipo, é prudente que estejas preparado para um pequeno fracasso. Neste caso, o mais eficaz é utilizar a ameaça.

A melhor chantagem é aquela em que seu objeto se sente culpado sem notar que tu estás agindo daquela forma propositadamente. Aliás, a chantagem é ótima quando assim não o parece. Um ar de cumplicidade, confiança mútua e sinceridade deve pairar entre ti e tua vítima. Para isso, deves ser totalmente convincente em tua representação de estares te sentindo prejudicado, triste ou angustiado devido às atitudes ou ações daquela pessoa. Deves conhecê-la bem, pois precisas saber exatamente em que circunstâncias ela se sentirá culpada por causar-te algum sofrimento.

8 de jan. de 2007

2.1. Conquistando o Poder - A Ameaça

Se queres um poder próximo ao despótico, a ameaça é a melhor ferramenta. Ela mobiliza a emoção paralisante do medo. Se conseguires que ele se espalhe entre teus submissos, terás logrado um bom êxito em fazer valer sobre eles tua vontade de mando. Este medo pode ser em relação a ti ou a outra coisa que julgares pertinente.

Se for em relação a ti, tua figura pública, a representação social feita a teu respeito deverá ser severa, rigorosa, austera e com raras aparições, para que a fantasia das pessoas alimente nelas o medo e o mito do déspota. Não é necessário dizer que, para criares uma imagem eficiente que mobilize o medo das pessoas, terás que eliminar alguns opositores de forma exemplar. Podes matá-los, prendê-los ou exilá-los. Não precisas fazer isso realmente, bastando fazer circular como verdade que o fizeste. Aí, dás muito dinheiro a alguns desses opositores e, sob a ameaça de matá-los caso revelem o segredo, manda-os a viver com opulência nalgum país distante. Mas faze os teus submissos terem como verdade que os mataste. Tem em conta, porém, que, se um opositor importante não aceitar tua proposta e estiver disposto a tudo para defender seu ponto de vista, deves ter a coragem de eliminá-lo realmente.

Se o medo não for em relação a ti, mas a outra coisa, então tua figura pública deve ser a do herói, do guerreiro, do homem corajoso que luta para defender os seus, do protetor que está sempre vigilante. Tuas aparições públicas devem ser dosadas de acordo com o grau de medo presente entre as pessoas. A sensação de ameaça que elas sentem não pode arrefecer muito, pois não conseguirás depois fazer com que volte ao ponto ideal. No entanto, se isto acontecer, terás que inventar uma nova ameaça, mais forte, capaz de mobilizar um medo ainda maior.

Tu podes também combinar ambas as ameaças, mas isto exigirá de ti uma coragem muito maior para esmagar valores morais que, com certeza, tens. Mas o mais problemático é que os teus submissos nutrirão por ti sentimentos ambíguos de medo e admiração do herói. Tal ambigüidade, a médio prazo, pode gerar situações explosivas que requerirão de ti ordenar o uso de força bruta. Meu conselho é que evites essa combinação de ameaças e prefiras aquela em que possas figurar como herói.

Não é preciso dizer que, qualquer que seja tua escolha, deverás ter sob teu controle os meios de comunicação.

7 de jan. de 2007

2. A Conquista do Poder


O poder detesta o vácuo. Por isso, estará sempre ocupado por alguém. Não há como dois poderosos ocuparem o mesmo lugar ao mesmo tempo. Daí que é imprescindível ter em conta que o poder nunca é dado a alguém, mas conquistado. Poder recebido de presente não significa nada além de enfeite. Poder conquistado é efetividade para fazer valer a vontade sobre os outros.

Nenhum poder vem de graça. Nada é dado e tudo é conquistado. A conquista do poder não é como a do atleta, pois esta lhe confere apenas fama, dinheiro e troféus, enquanto aquela dá acesso a que se faça valer a vontade própria sobre as vontades dos demais. Isto é o poder: fazer com que os outros realizem a tua vontade, preferencialmente de modo dócil e cogitando estarem fazendo nada mais que sua obrigação. Se queres conquistar o poder, prepara-te para a luta e para a tribulação. E para a vergonha do fracasso. E também para a glória do sucesso, se o obtiveres. Esta é para poucos. Afinal, o poder precisa de muitos que a ele se submetam e de poucos para exercê-lo.

Há pelo menos três formas, não excludentes entre si, para se conquistar o poder: a ameaça, a chantagem e a sedução. Tratarei de cada uma delas no próximo post.

6 de jan. de 2007

1. A Origem do Poder

O poder se origina da vontade de mando. A vontade de mando surge quando há ou a preguiça de realizar com as próprias mãos ou a impossibilidade de executar sozinho as tarefas necessárias à satisfação de uma outra vontade. Esta outra vontade é que confere finalidade à ação, fazendo com que haja mobilização para realizá-la. Assim emerge a necessidade de se ordenar que outros façam aquilo que é preciso para que a finalidade aconteça. Isto é a vontade de mando. Então a origem do poder está na necessidade de dar finalidade à ação e de ordenar aos outros que cumpram os passos necessários à sua consecução. A origem do poder está no fato de que toda ação precisa de uma finalidade. Aquele que confere esta finalidade e consegue mobilizar a própria vontade e as vontades dos outros para sua realização tem o poder.

Durante séculos, enquanto exercia o poder, eu pensava, equivocadamente, que ele era originário de minha força moral e da autoridade, mas, depois de algumas crises, aprendi que só não o perdi porque mantive a capacidade de conferir finalidade às ações e de mobilizar as pessoas para realizá-la antes mesmo de começar tal realização. A força moral e a autoridade são imprescindíveis durante a realização das tarefas necessárias à consecução da finalidade, para manter todos focados no mesmo alvo, mas não são úteis para a criação deste alvo. Aí o que conta é a vontade de mando. Daí é que deriva a liderança, mantida pela força moral e pela autoridade.
Se tu queres o poder ou pensas que o exerces de alguma maneira, confere primeiro se tens em teu interior a vontade de mando.

5 de jan. de 2007

O Manual do Poder

Todos querem o poder. Poucos o detêm. Ninguém o mantém para si durante muito tempo. Por ser tão estreito seu caminho e cheio de armadilhas e pedras escorregadias, apenas os hábeis sábios conseguem trilhá-lo com não muitas dificuldades. Eu, Benedictus Blackwhite, não somente por mérito próprio, mas também por apoio de muitos e pela força das circunstâncias, sou um desses que conseguiu executar o percurso do poder por longos milênios e com um mínimo de transtornos. Quando me afastei do poder – sim, não me deixei morrer por ele –, dediquei outras centenas de anos à arte do ilusionismo e da prestidigitação, tendo recebido lições dos mais importantes e reconhecidos mestres. Eis que, voltando recentemente à cena, muitos amigos poderosos vieram ter comigo a pedir conselhos e lições sobre o exercício do poder. Foi então que resolvi escrever essas anotações, como pequenos ensinamentos aos que pensam deter algum poder e àqueles que nutrem a ilusão de que um dia o terão nas mãos.

4 de jan. de 2007

Às portas da morte



Muita gente pensa que a morte por enforcamento é dolorosa, mas não é. O fogo é a mais sofrida de todas as mortes que já acompanhei em milênios de obscurantismo das sociedades humanas.

Saddam estava aparentemente calmo. Pouco antes de cair para a morte, virou-se para mim e disse "guarde bem o meu diário!", ao que acenei positivamente com a cabeça. É claro que não ouvi suas palavras, mas apenas li seus lábios. Faço leitura labial em mais de mil idiomas.

E caiu definitivamente no abismo sem volta da morte.

2 de jan. de 2007

Saddam


Nos últimos dias, estive no Iraque, a pedido de Saddam Hussein. Ele queria que eu acompanhasse seus passos finais nesta existência terrestre sombria. Bush e o governo local não gostaram de minha atitude, mas não estou aí pra eles. O ex-ditador tinha direito a um acompanhamento religioso e solicitou que fosse eu a fazê-lo. Contou-me novos segredos de Bush, Rumsfield e Bin Laden. Entregou-me seu diário pessoal e pediu que o guardasse em local seguro. Autorizou sua publicação não antes do ano ocidental de 2015. E caminhou silencioso ao patíbulo.