8 de jan. de 2007

2.1. Conquistando o Poder - A Ameaça

Se queres um poder próximo ao despótico, a ameaça é a melhor ferramenta. Ela mobiliza a emoção paralisante do medo. Se conseguires que ele se espalhe entre teus submissos, terás logrado um bom êxito em fazer valer sobre eles tua vontade de mando. Este medo pode ser em relação a ti ou a outra coisa que julgares pertinente.

Se for em relação a ti, tua figura pública, a representação social feita a teu respeito deverá ser severa, rigorosa, austera e com raras aparições, para que a fantasia das pessoas alimente nelas o medo e o mito do déspota. Não é necessário dizer que, para criares uma imagem eficiente que mobilize o medo das pessoas, terás que eliminar alguns opositores de forma exemplar. Podes matá-los, prendê-los ou exilá-los. Não precisas fazer isso realmente, bastando fazer circular como verdade que o fizeste. Aí, dás muito dinheiro a alguns desses opositores e, sob a ameaça de matá-los caso revelem o segredo, manda-os a viver com opulência nalgum país distante. Mas faze os teus submissos terem como verdade que os mataste. Tem em conta, porém, que, se um opositor importante não aceitar tua proposta e estiver disposto a tudo para defender seu ponto de vista, deves ter a coragem de eliminá-lo realmente.

Se o medo não for em relação a ti, mas a outra coisa, então tua figura pública deve ser a do herói, do guerreiro, do homem corajoso que luta para defender os seus, do protetor que está sempre vigilante. Tuas aparições públicas devem ser dosadas de acordo com o grau de medo presente entre as pessoas. A sensação de ameaça que elas sentem não pode arrefecer muito, pois não conseguirás depois fazer com que volte ao ponto ideal. No entanto, se isto acontecer, terás que inventar uma nova ameaça, mais forte, capaz de mobilizar um medo ainda maior.

Tu podes também combinar ambas as ameaças, mas isto exigirá de ti uma coragem muito maior para esmagar valores morais que, com certeza, tens. Mas o mais problemático é que os teus submissos nutrirão por ti sentimentos ambíguos de medo e admiração do herói. Tal ambigüidade, a médio prazo, pode gerar situações explosivas que requerirão de ti ordenar o uso de força bruta. Meu conselho é que evites essa combinação de ameaças e prefiras aquela em que possas figurar como herói.

Não é preciso dizer que, qualquer que seja tua escolha, deverás ter sob teu controle os meios de comunicação.

3 comentários:

Anônimo disse...

SS. BXVI,

Que ensinamentos sábios!!! Como um gafanhoto ávido por conhecimento (não sei se gafanhotos pensam, mas os chineses dizem que sim), gostaria de fazer alguns comentários e uma pergunta, se vós me o permitires...

Tenho praticado algumas ameaças e elas se configuram um tanto diferentes daquelas que vós tão magnanimamente exemplificais e compartilhais conosco. Com que então, vejamos: ao invés de matar, ou dizer que matei alguns de meus opositores, tenho feito algo mais limpo e menos sujeito a condenações ao fogo eterno. Chamo a eles aloprados e dou-lhes o meu carinho, passo-lhes a mão na fronte exaurida de tanto me trazer malas repletas de recompensas e deito mão de muito dinheiro para que eles possam ser enviados em visitas a outros chefes que gostariam de ser iguais a mim, como os que têm possessões em Caracala, La Guerra e, até, na cidade de Lavandotoneladas, em Corrente Contínua. Eles passam a ser meus enviados especiais, mas o povo não sabe... Acredita que são malditos e que foram escorraçados de minhas terras...

A minha pergunta é a seguinte, ó mestre, perdão, SS.: uma vez que um aloprado tenha muitas informações importantes sobre os meus segredos para garantir o meu poder, como mantê-lo na mesma condição de aloprado útil, sem correr o risco de depender dele para exercer plenamente aquilo que tanto busco?

Aguardo vossa comunicação em resposta.

Benedictus Blackwhite disse...

Meu caro,
a situação que descreves será abordada quando eu tratar da relação entre o poderoso e os seus próximos, em breve.

Anônimo disse...

Prefiro o poder na forma heroica, protetora. Mas de vez em quando ha que ser tirano com os subordinados, principalmente se eles pisarem no seu calo. E mais, nada como incitar seus subordinados com a tatica do "nos versus eles". Funciooooona....

O que voce diz de Maquiavel, em O Principe?