Tudo flui e nada permanece.
Ninguém toma banho no mesmo rio duas vezes.
A guerra é a mãe de todas as coisas.
Eu, Benedito Blackwhite, sou assim. Heráclito não sabia, mas falava sobre mim. Não sou auto-referente - longe de mim competir com o Messias judaico -, mas quero apenas fazer justiça à minha condição de metamorfose permanente.
A China é um país lindo! Há um clima de hospitalidade e de interesse por mim lá. Negro que sou, sempre desperto nas pessoas uma curiosidade generosa, uma acolhida sem paternalismos. Já como papa, há uma séria desconfiança quanto à minha presença. Mas, como não quero despertar curiosidade e nem malquerença, prefiro me transformar numa linda menininha que passeia livremente de bicicleta pelos parques e ciclovias.
Tem dias muito difíceis para mim. Quando estou sob forte estresse, não consigo realizar totalmente uma metamorfose. Dia desses, tentei com todas as forças transformar-me num pássaro, mas a única coisa que consegui foi essa coisa que vocês vêem voando aí do lado. Tem dias muito difíceis para mim.
Quando estou em Nova Iorque, adoro correr no Central Park. Mas detesto o assédio de fãs e de desafetos. Não gosto de ser perturbado quando executando meus exercícios físicos matinais. Por isso, prefiro manter-me invisível. Se você estiver um dia no Central Park e vir um homem invisível correndo por lá, saiba que sou eu. Mas como será possível você ter visto um homem invisível?
O meu amigo fotógrafo Jorge Lorenzetti, sócio-presidente de uma fábrica de chuveiros e de artigos para churrasco, flagrou, num raro momento de sorte, a mão invisível do mercado. É forte concorrente ao Pulitzer.
Costumo viajar de férias para a Transilvânia, um lugar lindamente tenebroso. Quando lá, hospedo-me no castelo de meu amigo Drácula. Ele, como eu, é capaz de se transformar em morcego. A diferença é que eu posso virtualmente ser qualquer coisa que quiser, ao passo que ele consegue apenas alternar entre morcego e humano-vampiro. Pode até parecer Drácula, mas este morcego voando aí ao lado sou eu, não ele. A diferença é sutil: está no ritmo do bater das asas. Drácula tem um frenesi, uma pressa de chegar. Eu, como não sou perseguido por matadores de vampiros, vôo mais suave e sem pressa.
Maria, mãe de Jesus, não deixes que teu filho se entregue às tramóias dos fariseus. Alerta-o sobre os riscos que corre ao andar com aquela gente. Se ele, mesmo assim, insistir, chantageia-o, instiga-lhe culpa, para que recue. Não permitas que se alie ao PMDB e faze o que estiver ao teu alcance para que fique longe dos aloprados do PT. E, também, convence-o de que o Brasil não crescerá 5% em 2007. Se, mesmo assim, ele não te ouvir, joga fora esse tubo de ensaio e dá-lhe umas palmadas.
Já rodei mundo nestas várias vidas que tenho. Experimentei muita comida estranha. A mais exótica foi uma mistura de pedaços de porco com feijão, que comi no Brasil. Mas meu prato predileto é mesmo barata gigante da Tailândia, assada com leite de hipotótamo e batatas. Delícia.
Pelé e eu somos velhos amigos. Conhecemo-nos num campo de futebol da Baviera, quando ele veio participar de um jogo beneficente para o Movimento de Crianças de Rua da Alemanha, o Strassekinder Bewegung. Depois, o convidei para uma missa em Roma.
Como vocês sabem, sou muito elástico. Ora sou um santo preto, ora, um papa branco. Sou muitos. Uma legião. Certa vez, meu amigo fotógrafo Sebastião Adocicado tirou uma foto minha no momento exato em que estava trocando de pele para assumir outra personalidade. Até que ficou boa a foto.
Apesar de ser preto, eu sinto medo. De cobra, então. Mas o que mais me assusta é planta carnívora. Uma vez, dei de cara com uma na Floresta Negra. Mesmo tremendo muito, consegui fazer uma foto antes que ela me comesse todo.
CAIRO - Arqueólogos da Universidade do Atalaia encontraram um crânio que parece ser de Jesus. A marca do terceiro olho na testa é a prova mais cabal de que se trata mesmo do filho de Maria. Há teóricos, no entanto, suspeitando tratar-se de Buda, não de Jesus, pois a marca do terceiro olho é muito grande para ser de um judeu.
Tem muito racista por aí que pensa que sou inferior aos brancos só porque sou preto. Mas eu não ligo: protejo tanto brancos quanto pretos. E aos amarelos e aos vermelhos, também.
