31 de mar. de 2007

Meu Caro Henry Sobel

Furtar gravatas seria apenas furtar gravatas se não fossem de marcas famosas. Furtar gravatas seria apenas furtar gravatas se o acusado não fosse um rabino conhecido em um país do hemisfério sul. Se o acusado fosse um vivaldino desconhecido, seria uma ocorrência a mais na delegacia de polícia de Palm Beach.

Mas trata-se de Henry Sobel.

Henry Sobel não pode furtar gravatas em Palm Beach. Não pode nem mesmo ser acusado de fazê-lo. Henry Sobel é intocável. É perfeito. Um observante radical do mandamento "não roubarás". Eu posso furtar gravatas em Palm Beach e em Milão. Ele, não.

Por que não?

Por causa de uma bobagenzinha chamada narcisismo. Mais: narcisismo moral. Ou moral narcisista. É ela que faz com que algumas pessoas se sintam melhores do que Deus: impecáveis. Quando se lhes imputa a acusação de terem furtado quatro gravatas, querem morrer. Não tanto por causa da acusação de furto em si, mas de sua publicidade.

Haveria esse drama todo se a acusação não tivesse sido publicada?

Caro senhor Sobel, você é um humano, feito de húmus. Não pretenda ser Deus. Você é acusado de furtar quatro gravatas. Deus é acusado de nos levar toda perspectiva de perfeição.

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